segunda-feira, 19 de maio de 2008

O enterrado vivo


É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
É sempre no meu sempre a mesma ausência.
*Carlos Drummond de Andrade*

3 comentários:

LEONARDO SARMENTO disse...

É sempre na nossa insanidade a nossa desesperança...

Lata Mágica Recife disse...

Muito bom, sobre esse tema que a nossa oficina de fotografia foi realizado com jovem com disturbios mentais.
as imagens estão lá no nosso cantinho.

Um abraço.

Willam & Odilene

osátiro disse...

Poema muito bem escolhido.
Parabéns.
Tb pelo blog.