quinta-feira, 20 de março de 2008

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O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.


*Clarice Lispector*

3 comentários:

Walquíria Domingues disse...

Cantinho bom? Cantinho perfeito! Li seus posts, e amei, me identifiquei com seu modo. As músicas são as melhores que há! *__*
Tomei a liberdade de linkar o Cantinho Bom em meu blog!
Passe por lá mais tarde. Beijos!!!!

Jotacarlos. disse...

Olá,
morte e vida, vida e morte:
O prazer parece perpetuar na sutileza desta linha ténue entre uma e outra.
Um abraço.

Cosmunicando disse...

Clarice!